O que significa o fim das livrarias?


Nos últimos dias, soubemos que a Saraiva está fechando algumas de suas lojas, a Fnac deixando o país e a Livraria Cultura está em recuperação judicial, isso é reflexo da crise econômica que já se estende há alguns anos em nosso país. É sabido que o brasileiro não tem o hábito da leitura, então com menor poder aquisitivo, as pessoas estão adquirindo menos livros ainda e as livrarias não conseguem cumprir com seus compromisso junto às editoras, fornecedores e colaboradores. Se as grandes livrarias estão passando por todo essa dificuldade, imagine a situação das pequenas.

O fechamento das livrarias desencadeou uma reação em cadeia, primeiramente, o desligamento de diversos profissionais engrossando o número de desempregados no país. Há editoras que não tem onde expor seu material, quem não gostava de dar uma boa lida nos livros antes de comprar? Com vendas menores, fica mais difícil manter funcionários e investir em novos lançamentos. Acredito que a grande maioria das editoras terceirize o serviço gráfico, portanto menos trabalho para as gráficas, estas também são obrigadas a demitir funcionários, diminuir a compra de material e assim por diante. 

Com o exemplo acima é notável a importância das livrarias para a geração de emprego e movimentação da economia. Muitas editoras já tem outros meios de distribuição de seus materiais ou estão estudando maneiras de escoar a produção, mas muitas delas já apostam no segmento digital para diversificar sua linha de produtos, entretanto o livro físico ainda vende mais que a sua versão eletrônica. Não são todas as pessoas que gostam de comprar livros pela internet, apesar da facilidade e muitas vezes ter preços mais atraentes que nas livrarias. 

No meu ponto de vista, as livrarias não diminuírem os preços de seus livros para concorrer com a Amazon, por exemplo, foi um erro estratégico. Fazer promoções de lançamentos, não apenas de encalhes. Não seria necessário fazer um preço igual ao da concorrente virtual, mas diminuindo um pouco do valor do livro já seria muito interessante, pois livro é algo que continua caro no Brasil, mas como todo empreendimento, a margem de lucro nunca diminui, mas sim os custos de produção.

Tenho boas lembranças com livrarias, cito um exemplo, teve uma época em que eu estava colecionando Sandman da editora Metal Pesado e faltava uma edição, cujo número não vou lembrar, do arco A Casa das Bonecas, não encontrava de jeito nenhum. Procurei em gibiterias e fiquei sabendo que aquela edição em específico teve tiragem menor, ou parte da produção se perdeu por conta de chuva, enfim, era uma edição rara e eu não estava disposto a encarar o preço cobrado no Mercado Livre, pois dificilmente pago um preço maior que o de capa por um quadrinho. Certo dia, estava passeando na livraria Saraiva do Shopping Anália Franco e sempre gostei de olhar a parte de HQs, cavucando, cavucando, reparo algo inesperado, não é que no meio das revistas estava a bendita da edição de Sandman que eu tanto procurava? 

Houve uma época em que eu só ficava sabendo dos lançamentos através das livrarias, em se tratando de histórias em quadrinhos, havia material que só chegava nelas e não em bancas de jornal, caso de material importado, que muitas vezes ainda permanecem inéditos em língua portuguesa. Arrependo-me de não ter comprado algumas coisas na época e que hoje são difíceis de encontrar por aqui. Sou daqueles leitores que não tem o hábito de ler scans, então sou muito apegado a mídia física, ainda mais quando há livros ou quadrinhos que tenham diferencial, principalmente no seu acabamento.

O fim das livrarias não só representa desemprego, mas para mim, o fim das livrarias é também o fim da experiência de poder matar o tempo lendo livros novos sem pagar enquanto a namorada vai fazer compras, conhecer novos materiais através de vendedores ou outros clientes, ficar procurando algum título interessante pelas enormes estantes, é mais uma porta que se fecha na obtenção de uma das maiores riquezas da humanidade, a cultura.

Para entender mais sobre a crise das livrarias, recomendo o vídeo Entendendo a Crise das Livrarias (com Artur Vecchi).